AS ENCRUZILHADAS DO TORNAR-SE NEGRA: PROTAGONIZAÇÃO SOBRE SI COMO SAÚDE E VIDA
Raissa Ramos de Oliveira Theodoro, Isabela Schneider, Maria Luiza Ferreira do Nascimento Carvalho, Richard Silva dos Santos, Waldenilson Teixeira Ramos
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a constituição da subjetividade negra a partir da intersecção entre psicanálise, racismo estrutural e capitalismo. Partindo da obra de Neusa Santos Souza, especialmente a noção de que “não se nasce negro, torna-se negro”, analisa-se o impacto do Ideal do Ego branco na formação psíquica de pessoas negras no Brasil. Ao tensionar os conceitos freudianos de Ego Ideal e Ideal do Ego, o trabalho evidencia como o racismo opera como uma tecnologia de subjetivação, instaurando um modelo normativo e excludente. A performance de gênero e os marcadores raciais são analisados como dispositivos de governamentalidade que produzem sofrimento psíquico e impedem a construção de um Eu afirmativo. A clínica psicanalítica é, assim, convocada a romper com sua pretensa neutralidade, assumindo uma escuta comprometida com a transformação social. O tornar-se negro, neste contexto, é compreendido como um gesto político e clínico de resistência, afirmação identitária e promoção de saúde mental.
Palavras-chave
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